21.1.12

Entre aspas: A Espada

Luis Fernando Veríssimo é um dos grandes nomes da Literatura Brasileira. Retirei esse texto da minha leitura atual, uma edição velhinha de "Comédias da vida privada", um dos livros mais conhecidos do autor. Acredito que esta crônica agora seja parte de "comédias para se ler na escola". Fica a indicação de duas ótimas leituras.
Uma família de classe média alta. Pai, mulher, um filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho fez sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigos. Nota que o filho está quieto e sério, mas pensa: “É o cansaço.”Afinal ele passou o dia correndo de um lado para o outro (...). Tem que estar cansado.
- Quanto presente, hein, filho?
- É.
- E esta espada. Mas que beleza. Esta eu não tinha visto.(...)
- Era sobre isso que eu queria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu assim. Nunca viu nenhum garoto de sete anos sério assim. Solene assim. Coisa estranha… O filho tira a espada da mão do pai. Diz:
- Pai, eu sou Thunder Boy.
- Thunder Boy?
- Garoto Trovão.
 - Muito bem, meu filho. Agora vamos pra cama.
- Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu a receberia quando fizesse sete anos.
O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos está ajudando a gramática do guri. “Eu a receberia…” O Guri continua.
- Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo Thunder Boy a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, no vale sagrado de Bem Tael, há sete mil anos, e foi empunhado por Ramil, o primeiro Garoto Trovão.
O pai está impressionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórias em quadrinhos por uns tempos.
- Certo, filho. Mas agora vamos…
- Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiá-la. Diga que estava escrito. Era meu destino.
- Nós nunca mais vamos ver você? – pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho enquanto o encaminha, sutilmente, para a cama.
- Claro que sim. A espada do Thunder Boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocês forem pessoas boas e justas poderão contar com a minha ajuda.
- Ainda bem. – diz o pai.
E não diz mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus “Ramil!”. E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também.
O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:
- Viu só? Trovoada. Vá entender este tempo.
- Quem foi que deu a espada para ele?
- Não foi você? Pensei que tinha sido você.
- Tenho uma coisa pra te contar.
- O que é?
- Senta, primeiro.

8 comentários:

  1. Eu tenho o livro Comédias para se ler na escola aqui comigo, mas ainda não o li. Gostei desse texto (:

    Bj;*
    Naty.

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  2. Gostei do texto.
    Acho que vou dar uma olhada por ai e ver se encontro.

    Beijos.
    Leticia- http://obsessionvalley.blogspot.com

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  3. Oii

    Nunca li nada do autor, apesar de conhecê-lo.
    Gostei do que li.. e espero ler algo dele em breve.

    Ah eu também não comecei IAN, ainda bem que não estou sozinha, pois muitas blogueiras comentaram lá na postagem que nunca leram, também

    Ah então espero assistir Coração de Tinta haha

    Uma ótima terça
    beijos
    Nana - Obsession Valley

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  4. Oi Isabela, já li essa texto no livro Comédias para se ler na escola, e a maioria deles são muito bons, nada menos, considerando-se o autor. Já li também As mentiras que os homens contam, muito divertido.

    Beijinhos

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  5. Gostei do texto.
    Deve ser bem divertido, vou ver se leio.
    Beijos.
    http://booksedesenhos.blogspot.com

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  6. Oi! Adoro os textos do Veríssimo, já li alguns livros dele!
    Bjs

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  7. Oi! Adoro os textos do Veríssimo, já li alguns livros dele!
    Bjs

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